1. |
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um, dois, três… começo a contar os dias de dor
porque quando o rio corre contra mim
o tempo não me envolve, espero o fim
(porque quando tudo morre fica o meu amor
e quando você se encolhe me abro em flor)
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2. |
minha dor ri
02:51
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já não dá pra saber o que eu quis de nós
e é tarde pra se perguntar
só agora eu posso falar por mim
e eu deixei que passasse, ficasse no chão
vou buscar o meu terno amanhã
e esperar à porta da casa
alguém que me preste atenção
vou sair, pedir pra não mais te encontrar
meu engano, passado,
um pequeno fracasso de mim
já não dá pra saber o que eu fiz de nós
e é tarde pra te perguntar
se não podes nem mesmo falar por ti
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3. |
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quando tudo se acaba, já não há o que
falar como se a palavra fosse mais que um
livro inteiro bem escrito pra se fazer sentir
o mundo desabando – nem tente dormir
noite adentro, olho aberto, começou a cair
o choro, e por certo não vai ser tão simples
livrar-se das lembranças, de tudo o que foi
bom demais pra ser mentira – não pense em dor
pense em nada, ligue o rádio, vá fazer um lanche
agora, qualquer coisa, quem mandou ouvir
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4. |
O que eu não vi
02:43
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não entenda, não me entendo
quero mesmo é ser assim
gajo do sorriso frouxo
luz de brejo é tão ruim
não me importo, não se importe
todo corte há de sarar
salvo um ou dois dos fortes
que não sangram por sangrar
e quando o bom silêncio invade a alma
tente ouvirsem ler na palma
o que virá, o que há de vir
a flor do fim sugere o recomeço
O que reforça o meu apreço
pelo que não vi
não me queixo, não se choque
levo o norte a me seguir
e trago o mapa além da sorte
de não ter aonde ir
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5. |
O esquilo e o tamanduá
03:05
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era uma vez um tamanduá que adorava cantar
um esquilo que passava por ele ouviu sua voz
na selva urbana
e se iludiu com sua cantada
pois ele falava em outra língua
o tamanduá cantava os momentos os instantes
enquanto o esquilo ainda sonhava com o eterno
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6. |
Praça
04:24
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nessa praça tudo só
essas caras que não têm nenhuma ligação
nessa história tudo bem
todos querem se encontrar sem nenhuma obrigação
eu já não sei olhar pra longe sem enxergar
meu rosto calado, fechado pro sol
a praça pára e passa o meu olhar soturno
de quem já não pode mais pensar
em viver nessa praça de ninguém
sem ter nada seu por lá
você pode até dizer que não entende porquê
insisto em fugir e estar sempre só
a praça que canta quando é de manhã
a praça que encanta quem passa
não paro na praça que engana
a praça que não é de ninguém
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7. |
Dando voltas
05:39
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sempre que você vem me deixar
acabo pedindo pra ir mais devagar
só pra que eu possa ouvir a canção até o fim
nessa rota você sempre encontra uma outra curva
dando voltas e voltas antes do final
agora a música terminou há horas e a noite paira longa
frio afora – eu tinha mesmo alguma coisa pra te dizer
alguma coisa, eu sei muito bem o quê
fina e cortante que talvez mudasse o que acontece
antes do final, bem antes, mas não posso
tudo em mim emudece
rodeios, o que sobram são rodeios
esperar de você o que você me der
derramo açúcar em seus braços
e me aqueço no que a alma não quer
o silêncio do carro fala por si e, sendo assim, é melhor você ir
mas vê se toma cuidado, cuidado com o caminho de volta
meus olhos no retrovisor, cuidado com o que eu quis dizer
você nunca vai saber porque sempre desconfiou
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8. |
Sim, é domingo
03:12
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ão seis horas eu sei, é domingo
desperto, meu quarto escuro e não sei
de que lado a porta está
são seis horas eu sei, é domingo
teu nome acorda e começo a sonhar
com olhos abertos de mal dormir
são seis horas eu sei, é domingo
e seria melhor se deixar ficar
seduzindo o travesseiro a sair a passear
são seis horas… chiiiii! é domingo
meus vizinhos não sabem de ti
e o fim do silêncio é como querer apenas badernar
são seis horas eu sei, é domingo
mesmo com a luz acesa, logo que acordo
ainda assim não sei
de que lado a porta está
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9. |
Se pudesse ser assim
04:05
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e se o dia terminasse assim
e se a noite, mesmo triste
não pudesse ter qualquer outro fim
como as tardes de abril
como você sentiu
e se o dia começasse assim
e se à tarde – sempre bela
eu ficasse sentado ali como no carnaval
longe de todo mal
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10. |
O iluminado
04:09
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pelo que se sabe, ele quase tudo sabe
sabe as palavras, as notas,
das pratas, das rotas
pelo que se sabe, ele sempre sabe
a ordem, o tempo e o fim
só não se sabe como ele sabe tanto assim
pelo que se sabe, ele sabe de mim também
e sabe de você. cuidado, meu bem…
é uma questão natural
não venha querer discutir!
mas não se sabe mesmo…
como ele sabe tanto assim
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11. |
Samba do camaleão
03:43
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camaleão que pára na calçada
camaleão pára pra pensar
camaleão que vem pela estrada
camaleão chega pra dançar
camaleão quando vem de madrugada
camaleão – só pra espiar
camaleão, ela já está cansada
camaleão – cansada de esperar
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12. |
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13. |
Saudade
04:27
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hoje que a mágoa me apunhala o seio
e o coração me rasga atroz imensa
eu a bendigo da descrença em meio
porque eu hoje só vivo da descrença
a noite quando em funda soledade
minh’ alma se recolhe tristemente
pra iluminar-me a alma descontente
se acende o círio triste da saudade
e assim afeito às mágoas e ao tormento
e à dor e ao sofrimento eterno afeito
para dar vida à dor e ao sofrimento
da saudade da campa enegrecida
guardo a lembrança que me sangra o peito
e que no entanto me alimenta a vida
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Eduardo Patricio Poznań, Poland
Brazilian musician/sound artist.
www.eduardopatricio.com
PhD in Sonic Arts (Queen's University Belfast)
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